sábado, 6 de novembro de 2010

TPM SOB CONTROLE.

Quando a mulher está "naqueles dias" parece que não há remédio que resolva o malestar. Parecia, pois uma nova geração de anticoncepcionais chega ao mercado prometendo amenizar os sintomas da TPM, reduzindo a irritabilidade própria desse período e melhorando a auto-estima feminina

POR ANDRÉ LIMA

Dor de cabeça, cólica, cansaço, depressão e ansiedade. Acrescente a esse caldeirão inchaço nos pés e nas mãos, dores musculares e, para piorar, sensibilidade à flor da pele. Esses são apenas alguns dos sintomas desagradáveis da TPM (tensão pré-menstrual), sentidos por grande parte das mulheres em idade reprodutiva entre sete e dez dias antes da menstruação.

Os efeitos da TPM, segundo boa parcela dos ginecologistas, não são nada benéficos à saúde da mulher. A síndrome afeta as relações amorosas e o desempenho profissional de 80% das brasileiras. “O impacto nas atividades cotidianas é maior quando os sintomas físicos e emocionais estão presentes”, diz o ginecologista Carlos Alberto Petta. Esses dados, ainda preliminares, são apontados pela pesquisa Tensão pré-menstrual: perspectivas e atitudes de mulheres, homens e médicos ginecologistas no Brasil, realizada com 860 mulheres com idade entre 18 e 35 anos.

Inédito no País, o estudo está sendo tabulado por pesquisadores da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e do Centro de Pesquisas em Saúde Reprodutiva de Campinas (Cemicamp), com patrocínio da Bayer Schering Pharma (veja quadro À flor da pele). Em outra frente de trabalho, o laboratório desenvolveu o anticoncepcional Yaz, que promete melhorar os sintomas da TPM.

SINTOMAS AFETAM VIDA AMOROSA
E PROFISSIONAL DE 80% DAS BRASILEIRAS

Irritação reduzida
A novidade desse anticoncepcional, segundo o ginecologista José Bento de Souza, é proporcionar a estabilidade da flutuação hormonal feminina. Assim, a cada ciclo menstrual, o aumento ou a diminuição dos hormônios torna-se menos gritante. De acordo com o especialista, o uso de 24 pílulas e a pausa de quatro dias entre as cartelas permitem que o composto de drospirenona, presente no medicamento, atue por todo o ciclo menstrual. “Esta substância controla o período menstrual e diminui o fluxo intenso de sangramento”, explica Souza, com base nos estudos clínicos realizados com Yaz.

De acordo com as avaliações, 48% das 450 pacientes entrevistadas tiveram os sintomas severos da TPM – tais como cólicas menstruais, acne e seborréia, excesso de peso de distribuição anormal e inchaço provocados pela retenção de líquido — reduzidos pela metade. Além disso, melhoraram as reações emocionais como irritabilidade e depressão e as relações sociais. A pílula, afirma o ginecologista, protege a massa óssea e os cabelos e previne endometriose (maior causa de esterilidade na mulher), anemia, câncer e cistos no ovário.

Efeitos colaterais
O anticoncepcional é contra-indicado para mulheres que têm ou já tiveram câncer de mama, para as portadoras de hipertensão grave, diabetes, problemas hepáticos e tromboembolismo e para as mulheres com mais de 35 anos que fumam ou apresentam características que aumentam o risco de trombose ou infarto. “Os efeitos colaterais geralmente se manifestam em menos de 3% dos casos. Pode haver sangramentos inesperados, pequenas alterações nos vasos das pernas e dor de cabeça, que são uma adaptação ao método. Por isso, antes de tomar o medicamento, é preciso consultar o médico”, reconhece Souza.

QUAL O GRAU
DA SUA TPM?
sintomas emocionais
sintomas físicos

Os sintomas aparecem de sete a dez dias antes da menstruação (fase lútea) e desaparecem poucos dias após o início do fluxo menstrual. Mas quem convive com a forma mais severa da TPM, chamada de síndrome disfórica prémenstrual (SDPM), tem a qualidade de vida afetada negativamente durante esse período, com interferências nas atividades sociais e na produtividade profissional. Para saber se este é o seu caso, marque os sintomas físicos e emocionais que acometem você antes do ciclo menstrual. “Pacientes que apresentam pelo menos cinco desses sintomas, sendo um deles obrigatoriamente emocional, nos últimos sete ciclos menstruais podem estar convivendo com um grau severo de TPM”, explica o ginecologista Carlos Alberto Petta.

Irritabilidade

Depressão ou desespero

Ansiedade e tensão

Tristeza repentina

Choro

Raiva e fúria

Oscilações súbitas de humor

Dificuldade de concentração

Baixa auto-estima

Falta de energia

Desinteresse nas atividades habituais

Fadiga

Dor de cabeça (cefaléia)

Inchaço dos pés e das mãos

Dor nas mamas

Distensão abdominal

Cólicas

Alteração do apetite

Dor nas articulações e nos músculos

Alteração do sono (aumento do sono ou insônia)

Menstruar menos ou mais
A questão está longe de ser consensual entre os especialistas. Para boa parte dos médicos, a menstruação é o melhor sinal do bom funcionamento do organismo feminino. Assim, sabe-se que o óvulo não foi fecundado. Outra parte, porém, considera sangrar uma opção da mulher. O grupo dos contrários à falta de menstruação por causa de um anticoncepcional argumenta que essa suspensão inibe o importante papel sinalizador do sangramento, que pode indicar algo errado no corpo feminino, como problemas nas glândulas tireóide e suprarrenal.

Os favoráveis à supressão não vêem nenhum mal a longo prazo. “Há mais de 100 anos, as mulheres passavam a vida quase sem menstruar porque engravidavam e amamentavam mais. A falta de sangramento nunca fez mal à saúde feminina”, diz o ginecologista Luis Bahamondes, professor titular do Departamento de Tocoginecologia da Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp.

PARA BOA PARTE DOS MÉDICOS, A MENSTRUAÇÃO É O MELHOR SINAL DO BOM FUNCIONAMENTO DO ORGANISMO FEMININO. OUTROS, PORÉM, CONSIDERAM SANGRAR UMA OPÇÃO DA MULHER

FOTOS: SHUTTERSTOCK

SOLUÇÕES SIMPLES
QUE AJUDAM A PREVENÇÃO

A TPM pode ser prevenida com simples mudanças na dieta e no estilo de vida:
*Evite café, chocolate em excesso, bebidas alcoólicas e alimentos condimentados.
*Faça exercícios físicos aeróbicos, como caminhar rapidamente de 3 a 5 quilômetros por dia, três a quatro vezes por semana.
*Faça atividades lúdicas, para reduzir o estresse. *Consuma alimentos à base de soja, que têm efeito estrogênico.

À FLOR DA PELE

De acordo com a pesquisa realizada em parceria pela Unicamp e Cemicamp, a TPM deixa as mulheres à beira de um ataque de nervos. Em 95% das que afirmam ter – ou já ter tido – TPM, a síndrome pré-menstrual provoca sintomas físicos e emocionais. Mesmo assim 58,2% delas ainda não haviam consultado um médico.

PRINCIPAIS QUEIXAS:
85,4% : NERVOSISMO E ANSIEDADE;

81,9% : ALTERAÇÕES DE HUMOR E CHORO FÁCIL

77,3 % : IRRITAÇÃO

77,6 % : DORES NO CORPO E INCHAÇO NAS MÃOS E NOS PÉS

70,7%: CÓLICAS FREQÜENTES;

65,8% : DOR DE CABEÇA

O estudo visa investigar, entre outros aspectos, como a TPM afeta a qualidade de vida e o dia-a-dia das mulheres e quais medidas elas adotam para lidar com os sintomas da síndrome. O levantamento será realizado com um total de 1,2 mil mulheres de todo o Brasil, englobando as cinco regiões do País. O próximo passo é averiguar a opinião dos homens sobre a TPM e o que eles fazem para lidar com o problema. Os resultados devem ser concluídos no segundo semestre deste ano.

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